terça-feira, 26 de abril de 2011

Crônica - 8º ano do Ensino Fundamental.

A crônica trata dos mais variados assuntos, não importando tempo, espaço ou personagem. Na efemeridade das páginas de um jornal ou na eternidade de uma página de livro, ela está sempre ensinando alguma coisa, fazendo o leitor refletir, prestar atenção naquilo que, a princípio, parecia menor; apresentando uma realidade recriada.

Com essa responsabilidade estão os cronistas – pessoas sensíveis, atentas, preocupadas em captar um breve instante e proporcionar ao leitor a cumplicidade, o diálogo e, sobretudo, a reflexão. Profissionais que não pretendem informar ou "contar" a história, embora possam fazê-lo. Mas, acima de tudo, formar e trazer a história para a vida de cada um de seus leitores.

Crônica seria como um desabafo para o autor. Ele estaria relatando um problema do cotidiano e principalmente CRITICANDO, através do seu ponto de vista. Os autores de crônicas abusam dessa forma de texto exatamente pela oportunidade que tem de dar o seu ponto de vista.

No sentido atual, crônica é um tipo de texto publicado num jornal, diariamente, ou em alguns dias da semana.
Apoia-se num fato do dia-a-dia, que o cronista usa como pretexto, como ponto de partida para uma reflexão, ou para que ele conte uma história.
Obrigatoriamente, a crônica não apresenta uma forma fixa de composição (apresentação, desenvolvimento e desfecho) e é caracterizada, principalmente, pelo enfoque pessoal do cotidiano, através da emoção do cronista.

O foco narrativo pode ser em primeira ou terceira pessoa

As crônicas saem principalmente em jornais. Depois, algumas selecionadas, são publicadas em livros.


1. Escolha algum acontecimento atual que lhe chame a atenção. Você pode procurá-lo em meios como jornais, revistas e noticiários. Outra boa forma de encontrar um tema é andar, abrir a janela, conversar com as pessoas, ou seja, entrar em contato com a infinidade de coisas que acontecem ao seu redor. Tudo pode ser assunto para uma crônica.



É importante que o tema escolhido desperte o seu interesse, cause em você alguma sensação interessante: entusiasmo, horror, desânimo, indignação, felicidade... Isso pode ajudá-lo a escrever uma crônica com maior facilidade .
EXEMPLO DE CRÔNICA COMETÁRIO


O PODER ULTRAJOVEM NO PODER

Pense em tudo o que você não teria aprendido ao longo da vida se seus pais tivessem deixado você decidir tudo o que queria desde a infância. Quantas músicas não teria ouvido, quantas comidas não teria experimentado, quantas pessoas não teria conhecido. Outro dia um primo, que tem duas filhas de 12 e 10 anos e um menino de 8, estava dizendo que eles têm um acordo. As crianças só podem ouvir High School Musical no carro da mãe. No carro dele, é ele quem manda na programação musical. "Porque se a gente deixar", ele disse, "elas nunca vão ouvir nada além disso."


Minha irmã e eu passamos a vida inteira reclamando de ter de ouvir Jovem Pan AM de manhã quando estávamos indo para a escola. Só de ouvir o "Vambora, vambora, olha a hora..." a gente tinha arrepios. Mas ninguém morreu por causa disso e com certeza éramos mais bem informadas do que algumas colegas.


Hoje os pais têm filhos e ficam completamente fora do mundo. Ninguém mais vê filme de adulto, nem lê livro de adulto, nem assiste programa de TV de adulto. Talvez seja uma estratégia escapista, mas é fato que as crianças hoje têm um poder muito maior do que a gente teve. O resultado não é legal. Graças às vontades e gostos dos meus pais e avós, hoje conheço muito de música, não tenho frescura pra comer e suporto bem situações que a maioria das pessoas acha mala. Melhor pra mim.


Tem uma crônica do Drummond, publicada num daqueles volumes chamados "Para gostar de ler", coletâneas que a Ática publicava na década de 80, que justamente chama "O poder ultrajovem". Era sobre um pai que leva a filha pequena pra jantar fora e os dois ficam discutindo o que vão comer, porque o pai quer pedir uma lasanha pros dois e a menina quer comer camarão. Claro que a menininha dá um nó no pai, mas naquela época isso tinha graça porque era incomum. Era só o começo da ditadura da infância que hoje assumiu o poder.
CRÔNICA COMENTÁRIO
Apresenta um acontecimento em primeiro plano, acompanhado de uma reflexão.Não apresenta uma forma fixa de composição. Pode-se usar linguagem direta, denotativa, próxima da jornalística e seu tom pode ser irônico, bem ou mal humorado.


EXEMPLO DE CRÔNICA COMENTÁRIO


OLHADOR DE ANÚNCIO
(Carlos Drummond de Andrade)

Sempre é bom tomar conhecimento das mensagens publicadas. É o mundo visto através da arte de vender. “As lojas tal fazem tudo por amor”. Já sabemos que esse tudo é muito relativo. “Em nossas vitrinas a japona é irresistível”. Então, precavidos, não passaremos diante das vitrinas. E essa outra mensagem é, mesmo, de alta prudência: aprenda a ver com os dois olhos”. Precisamos deles para navegar na maré do surrealismo que cobre outro setor de publicidade: “Na liquidação nacional, a casa X tritura os preços”. Os preços viando pó

   num país inteiramente líquido: vejam a força da imagem. Rara espécie animal aparece de repente: “Comprar na loja Y é supergalinhamorta”.
   Prosseguimos invocados, sonhando “o sonho branco das noites de julho”: “Ponha uma onça no seu gravador”. “A alegria está no açúcar”. “Pneu de ombro arredondados é mais pneu”.
   O olhador sente o prazer de novas associações de coisas, animais, e pessoas;

   e este prazer é poético. Quem disse que a poesia ainda é desvalorizada? A bossa dos anúncios prova o contrário. E, ao vender-nos qualquer mercadoria, eles nos dão de presente “algo mais”, que é produto da imaginação e tem serventia, como as coisas concretas, que também de pão abstrato se nutre o homem.
EXERCÍCIO
Crie uma crônica comentário sobre qualquer assunto do cotidiano, não esquecendo de ressaltar a criticidade, através da exposição do seu ponto de vista, além do leve tom de humor.
De 20 a 30 linhas, no caderno de redação (classe).
CRÔNICA LÍRICA
Também não apresenta um forma fixa de composição. O autor parte de um fato e faz livres associações, usando a linguagem sentimental, conotativa, traduzindo, de uma forma bastante emotiva, uma realidade pessoal ou não.
EXEMPLO: O ANJO DA NOITE
   O guarda – noturno caminha com delicadeza, para não assustar, para não acordar ninguém. Lá vão seus passos vagarosos, cadenciados, cosendo a sua sombra com a pedra da calçada.
   Vagos rumores de bondes, de ônibus, os últimos veículos, já sonolentos, que vão e voltam quase vazios.

  O guarda-noturno, que passa rente às casas, pode ouvir ainda a música de algum rádio, o choro de alguma criança, um resto de conversa, alguma risada. Mas vai andando. A noite é serena, a rua está em paz, o luar põe uma névoa azulada nos jardins, nos terraços, nas fachadas: o guarda-noturno pára e contempla.


      À noite, o mundo é bonito, como se não houvesse desacordos, aflições e ameaças. Mesmo os doentes parece que são mais felizes: esperam dormir um pouco à suavidade da sombra e do silêncio. Há muitos sonhos em cada casa. É bom ter uma casa, dormir, sonhar. O gato retardatário que volta apressado, com certo ar de culpa, num pulo exato galga o muro e desaparece: ele também tem o seu cantinho para descansar.

  O mundo podia ser tranquilo. As criaturas podiam ser amáveis. No entanto, ele mesmo, o guarda-noturno traz um bom revólver no bolso, para defender uma rua...
      E se um pequeno rumor chega ao seu ouvido e um vulto parece apontar na esquina, o guarda-noturno torna a trilhar longamente, como quem vai soprando um longo colar de contas de vidro. E recomça a andar, passo a passo, firme e cauteloso, dissipando ladrões e fantasmas.

É a hora muito profunda em que os insetos do jardim estão completamente extasiados, ao perfume da gardênia e à brancura da lua. E as pessoas adormecidas sentem, dentro de seus sonhos, que o guarda- noturno está tomando conta da noite, a vagar pelas ruas, anjo sem asas, porém amado.
(Cecília Meireles)

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